Entrevista Nota 10: Daniela Monteiro e as possibilidades da biomedicina como trilha profissional

seg, 14 outubro 2024 16:35

Entrevista Nota 10: Daniela Monteiro e as possibilidades da biomedicina como trilha profissional

Pesquisadora fala sobre a importância do biomédico para a sociedade e a saúde pública, além de apresentar as oportunidades do mercado de trabalho para esse profissional


Doutora em Biotecnologia e mestre em Patologia, Daniela é biomédica e especialista em Biologia Evolutiva (Foto: Arquivo pessoal)
Doutora em Biotecnologia e mestre em Patologia, Daniela é biomédica e especialista em Biologia Evolutiva (Foto: Arquivo pessoal)

Neste semestre, a Universidade de Fortaleza, mantida pela Fundação Edson Queiroz, anunciou uma grande novidade para quem busca formação em saúde: o lançamento do bacharelado em Biomedicina. Em expansão, o mercado de trabalho para biomédicos é dinâmico e cada vez mais requisitado, principalmente com a crescente demanda por diagnósticos laboratoriais.

O profissional pode atuar em laboratórios, hospitais, indústrias farmacêuticas, pesquisas e em bancos de sangue, desempenhando o papel de agente vital na saúde pública. A biomédica e pesquisadora Daniela Cristina Sensato Monteiro reforça a importância dessa atuação, que utiliza do conhecimento científico para diagnosticar, pesquisar e educar, promovendo a qualidade de vida e o bem-estar da população.

Especialista em Biologia Molecular e Bioquímica Clínica e mestre em Patologia, ambos pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Daniela explica que a emergência sanitária de Covid-19 “trouxe à tona a importância desse profissional, ampliando e reformulando diversas frentes de atuação”.

Segundo ela — que também é doutora em Biotecnologia pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e especialista em Biologia Evolutiva pela Universidade de Franca (Unifran) —, o trabalho dos biomédicos foi destaque durante a pandemia, desde o sequenciamento genético do vírus até o desenvolvimento de tecnologias para monitoramento e controle da doença, tendo ainda sido essencial na linha de frente em hospitais e laboratórios.

“Esse protagonismo evidenciou ainda mais a capacidade desses profissionais de atuarem em situações críticas e complexas, o que fortaleceu sua relevância no mercado de trabalho”, afirma.

Daniela já foi biomédica chefe no Instituto de Medicina Nuclear de Ribeirão Preto (DIMEN), mas se dedica atualmente às investigações acadêmicas. Hoje, tem trabalhado em pesquisas no Laboratório de Virologia do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) enquanto realiza seu pós-doutorado em Ciências Médicas na Unifor.

No último dia 10 de outubro, a profissional esteve na Unifor como convidada para conversar com os inscritos do novo curso de Biomedicina durante o evento de lançamento da graduação. Ela fala à Entrevista Nota 10 desta semana sobre a importância do biomédico na sociedade e para a saúde pública, além de apresentar as oportunidades do mercado de trabalho para esse profissional.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — O que te fez decidir ser biomédica? Poderia compartilhar alguma experiência que te influenciou a seguir essa carreira?

Daniela Monteiro — Minha escolha pela biomedicina não foi planejada, já que meu objetivo inicial era cursar odontologia. No entanto, ao não obter o resultado esperado, optei por uma faculdade particular que oferecia biomedicina, mesmo sem ter muito conhecimento sobre o curso. Logo na primeira semana, me encantei com as aulas, professores e, principalmente, com os laboratórios. Foi ali que percebi que a biomedicina era o meu lugar. Desde então, estar dentro de um laboratório me faz feliz e alimenta minha paixão pela profissão, algo que continua a me fascinar até hoje.

Entrevista Nota 10 — É comum esbarrar com comparativos entre medicina e biomedicina, uma dúvida que surge para quem quer investir numa formação em saúde. O que é preciso para ser um biomédico? Quais os principais pontos que fazem a área se diferenciar da medicina e que devem ser levados em conta na hora de escolher a biomedicina como profissão?

Daniela Monteiro — Embora muitas pessoas considerem biomedicina e medicina como cursos semelhantes ou concorrentes, existem diferenças significativas entre elas. A biomedicina prepara profissionais para estudar, investigar e pesquisar doenças, com foco em atividades laboratoriais; enquanto a medicina concentra-se no atendimento direto ao paciente e na cura de doenças em clínicas e hospitais.

Ambas as profissões são complementares e trabalham juntas para melhorar a qualidade de vida da população. Por exemplo, médicos utilizam os resultados de exames realizados por biomédicos para diagnosticar, curar e tratar doenças, enquanto biomédicos baseiam suas pesquisas em dados práticos obtidos no atendimento médico.

Em relação à rotina, a atuação do médico é voltada para o atendimento, diagnóstico e prescrição de tratamentos, enquanto o biomédico se concentra na coleta de amostras biológicas, realização de exames laboratoriais e pesquisa.

Entrevista Nota 10 — Qual o papel do biomédico para a saúde, principalmente a saúde pública? Como esse profissional trabalha para ajudar a sociedade, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida?

Daniela Monteiro — O biomédico desempenha um papel importante na saúde pública, contribuindo significativamente para o bem-estar e a qualidade de vida da sociedade. Eles realizam análises clínicas essenciais para o diagnóstico precoce de doenças, ajudando a identificar surtos epidemiológicos e a monitorar a saúde da população. Além disso, os biomédicos atuam em pesquisas científicas, desenvolvendo novos métodos de diagnóstico, tratamentos e vacinas, o que é vital para o controle de doenças.

Nos laboratórios de saúde pública, realizam análises de amostras biológicas para detectar doenças infecciosas e monitorar fatores ambientais que impactam a saúde. Também são fundamentais em campanhas de conscientização sobre saúde, promovendo hábitos saudáveis e educando a população. Ao colaborar com outros profissionais de saúde, os biomédicos contribuem para uma abordagem integrada, que visa a saúde da comunidade como um todo.

Em resumo, o biomédico é um agente vital na saúde pública, utilizando seu conhecimento científico para diagnosticar, pesquisar e educar, promovendo a qualidade de vida e o bem-estar da população.

Entrevista Nota 10 — Atualmente, quais são as principais áreas de atuação que o biomédico pode se dedicar? Existem campos que estejam mais em alta no momento? O que levou ao aumento dessa procura?

Daniela Monteiro — Atualmente, os biomédicos possuem 33 habilitações regulamentadas pelo Conselho Federal de Biomedicina, o que garante a esses profissionais mais de 70 campos de atuação.

A principal habilitação para mercado de trabalho para biomédicos é em análises clínicas. Com essa habilitação, o profissional pode atuar em diversas áreas, como hematologia, microbiologia, bioquímica, imunologia e parasitologia, cobrindo toda a rotina laboratorial em hospitais, laboratórios e clínicas. Também atuam na coleta, processamento, análise e emissão de laudos de exames. Essa área não apenas oferece uma quantidade significativa de vagas, mas também costuma ser a porta de entrada para biomédicos que buscam adquirir experiência. Muitos, após ganharem conhecimento e confiança, acabam abrindo seus próprios laboratórios de exames. 

Adicionalmente, novas áreas estão emergindo com força, como imagenologia, análise ambiental, perfusão extracorpórea, reprodução humana, fisiologia do esporte, estética dentre outras opções. 

Embora a maioria dos profissionais formados em biomedicina trabalhe em laboratórios, focando em análises clínicas e diagnósticas, há também aqueles que optam por seguir carreira acadêmica, tornando-se pesquisadores ou professores universitários, além de profissionais que encontram oportunidades em hospitais e clínicas particulares.

Entrevista Nota 10 — Como anda o mercado de trabalho e as oportunidades em biomedicina hoje? Apesar de já ser um profissional essencial para saúde antes da pandemia de Covid-19, a crise sanitária criou novas ou reformulou alguma demanda para o biomédico?

Daniela Monteiro — O mercado de trabalho em Biomedicina tem crescido consideravelmente nos últimos anos, e a pandemia de Covid-19 trouxe à tona a importância desse profissional, ampliando e reformulando diversas frentes de atuação. 

A atuação dos biomédicos foi garantida durante a pandemia, desde o sequenciamento genético do vírus até o desenvolvimento de tecnologias para monitoramento e controle da doença. Além disso, os biomédicos serviram na linha de frente em hospitais e laboratórios, sendo responsáveis ​​por coletas, exames de imagem, diagnósticos precisos e pesquisas científicas que resultaram em tratamentos e vacinas. Esse protagonismo evidenciou ainda mais a capacidade desses profissionais de atuarem em situações críticas e complexas, o que fortaleceu sua relevância no mercado de trabalho.

Entrevista Nota 10 — A Unifor anunciou o lançamento da nova graduação em Biomedicina, evento ao qual você foi convidada a palestrar aos inscritos e à comunidade acadêmica. Qual a importância de uma instituição como a Universidade de Fortaleza formar futuros biomédicos? Como isso pode influenciar o mercado de trabalho e a área de pesquisa?

Daniela Monteiro — A Universidade de Fortaleza, ao lançar a graduação em Biomedicina, desempenha um papel fundamental na formação de profissionais capacitados para atender às crescentes demandas do mercado de saúde. Com sua infraestrutura de ponta, como o Núcleo de Biologia Experimental (NUBEX) e o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), os estudantes têm acesso a uma formação prática e inovadora, alinhada às necessidades epidemiológicas da região. Isso prepara futuros biomédicos para atuarem nas  diversas áreas disponíveis dessa profissão, o que fortalece sua inserção no mercado de trabalho e amplia as oportunidades de atuação. Além disso, o incentivo à pesquisa científica desde a graduação, em parceria com programas como o RENORBIO e o Mestrado em Ciências Médicas, promove o desenvolvimento de novos conhecimentos, impactando positivamente a ciência e a saúde pública, tanto no Ceará quanto no Brasil.