Pesquisa Unifor: estudo cria sistema para modernizar o acompanhamento psicoterápico

ter, 2 dezembro 2025 16:43

Pesquisa Unifor: estudo cria sistema para modernizar o acompanhamento psicoterápico

Desenvolvida no Laboratório de Psicopatologia e Clínica Humanista-Fenomenológica (Apheto) da Unifor, a plataforma “Anni” tem o objetivo de integrar prática clínica em psicologia e pesquisa científica


O sistema apresenta arquitetura escalável e pode ser adaptado para clínicas-escola e programas de psicologia de outras instituições (Imagem: Getty Images)
O sistema apresenta arquitetura escalável e pode ser adaptado para clínicas-escola e programas de psicologia de outras instituições (Imagem: Getty Images)

A psicoterapia é uma prática profissional realizada por psicólogos. Trata-se de um processo no qual o psicólogo acolhe, compreende as queixas do paciente e realiza intervenções por meio de técnicas reconhecidas pela ciência, pela prática e ética profissional. Nesse sentido, a psicoterapia tem o objetivo de promover a saúde mental e ajudar as pessoas a enfrentarem seus conflitos e sofrimentos, e não somente para pessoas que têm o diagnóstico de transtornos mentais.

Pensando nesse cenário, a Universidade de Fortaleza (Unifor), vinculada à Fundação Edson Queiroz, por meio dos editais da Vice-Reitoria de Pesquisa (VRP), fomenta pesquisas sobre psicoterapia em diferentes contextos, como transtornos alimentares, obesidade, depressão, entre outros. Desenvolvida no Laboratório de Psicopatologia e Clínica Humanista-Fenomenológica (Apheto) do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP), em parceria com o laboratório do Vortex, a plataforma “Anni” é um desses estudos.

O sistema Anni é uma plataforma web desenvolvida entre fevereiro de 2022 e dezembro de 2024, que foi concebida para modernizar o acompanhamento dos processos psicoterápicos no curso de Psicologia da Unifor e apoiar o desenvolvimento de pesquisas em psicologia clínica. A plataforma integra funcionalidades essenciais para o monitoramento clínico e o gerenciamento de projetos de pesquisa, permitindo: 

  • Triagem de pacientes; 
  • Envio e gestão de instrumentos clínicos; 
  • Registro digital de prontuários; 
  • Anotações estruturadas de sessões psicoterápicas; 
  • Geração de relatórios e gráficos de acompanhamento. 

O professor do PPGP e coordenador do Apheto, Lucas Bloc, conta que o objetivo principal é desenvolver uma ferramenta funcional que integre prática clínica e pesquisa científica. Segundo ele, a ferramenta tem como público-alvo estudantes de graduação e pós-graduação em Psicologia, e possibilita a avaliação contínua dos processos de psicoterapia, fortalecendo a integração entre prática clínica e produção de conhecimento científico. 

Atualmente, Lucas diz que o sistema foi utilizado por 20 estudantes no contexto de práticas supervisionadas e projetos de pesquisa. “Inicialmente implementado na Unifor, o Anni apresenta arquitetura escalável e pode ser adaptado para clínicas-escola e programas de psicologia de outras instituições, ampliando seu alcance e consolidando sua aplicação em contextos de formação e pesquisa em saúde mental”, comenta.


“O modelo do Anni, baseado em tecnologias digitais de fácil adaptação, pode ser replicado por instituições que queiram aprimorar a coleta de dados clínicos, supervisionar práticas psicoterápicas e fortalecer a pesquisa aplicada. A plataforma integra funções como triagem eletrônica, envio de instrumentos de avaliação, registros de sessões e controle de supervisão, com bases seguras e em conformidade com a LGPD" —  Lucas Bloc, professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) e coordenador do Laboratório de Psicopatologia e Clínica Humanista-Fenomenológica (Apheto)

Como o Anni foi desenvolvido?

O professor Lucas Bloc fala que a crescente necessidade de integrar práticas clínicas supervisionadas a bases de dados estruturadas, especialmente em programas de formação demonstra a forte demanda por soluções digitais como o Anni. Na concepção do sistema, Lucas conta que tiveram uma série de etapas, que abrangiam desde a criação do nome e do objetivo, até a definição de prioridades, a adaptação ao contexto universitário, o desenvolvimento do sistema e os testes

“O Anni inova ao proporcionar um ambiente completo de integração entre práticas clínicas e pesquisas acadêmicas, facilitando a coleta de dados longitudinais e a análise de processos psicoterápicos em tempo real, o que contribui para intervenções mais assertivas e baseadas em evidências”, declara o professor.

Ele explica que o sistema é bastante intuitivo e funciona a partir do cadastro de docentes, discentes e pacientes. Com diferentes níveis de acesso, é possível que os professores acompanhem os processos, que os alunos registrem dados e apliquem, por exemplo, questionários ao longo do acompanhamento dos pacientes.

A principal motivação da criação da plataforma, de acordo com Lucas, veio da riqueza do trabalho que é feito no serviço de psicologia aplicada do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), que contrasta com a dificuldade em se realizar pesquisas. “Percebemos que os registros eram difíceis de localizar e pulverizados em diferentes locais. Entendemos que para fazer uma pesquisa ampla, precisávamos de um sistema que pudesse reunir os dados e armazená-los”, destaca.

José Waldo Neto, egresso do curso de Psicologia, participou do projeto no processo de aplicação do Anni. Após a criação com a equipe do Vortex, ele assumiu a responsabilidade de levar aos parceiros de projeto, a partir da sua experiência clínica, o necessário para a construção de uma pesquisa e os dados precisos de cada participante, cada paciente, além de também colocar o que a equipe construiu na prática. 

“Então, fiquei responsável por verificar quais eram as lacunas que estavam sendo construídas, verificar quais eram as dificuldades ainda existentes para cada vez aprimorar o projeto. Apliquei o questionário durante alguns pacientes que atendi no SPA (Serviço de Psicologia Aplicada), e monitorei esses processos tanto a nível de relatos, quanto das próprias sessões. Eu usava o Anni como uma espécie de prontuário, registrando tudo o que era observado e acompanhado ao longo do atendimento, além de me capacitar no uso dos instrumentos de avaliação”, ressalta José Waldo.

A importância e os benefícios para a sociedade

Para o professor Lucas Bloc, existem dois pontos que revelam a importância desse trabalho. O primeiro é a possibilidade de, com o apoio da tecnologia, aprimorar os processos em psicoterapia por meio de registros dinâmicos e monitoramento contínuo. 

O segundo, ele diz que advém do entendimento que a aproximação entre pesquisa e intervenção é fundamental para  atingir resultados significativos, entender processos, tomar decisões e identificar a dinâmica institucional. Lucas esclarece que isso beneficia direta e indiretamente aqueles que executam as ações e a comunidade que recebe serviços tão importantes.

José Waldo, que hoje atua como psicólogo clínico, explica que toda a pesquisa localiza um problema que precisa ser olhado e ela focaliza formas de como esse problema pode ser resolvido, quais são os caminhos que podem ser criados, construir e a partir dele, aprimorar e crescer enquanto sociedade, enquanto coletivo. 

“Pensando nas contribuições do sistema, eu diria que elas são muito significativas para evidenciar os efeitos da psicoterapia. Mais do que uma visão idealizada sobre o quanto a terapia pode ajudar, ele torna visível, de forma concreta, o crescimento que acontece ao longo do processo. Assim, coloca em destaque o alcance real do acompanhamento terapêutico na vida das pessoas, inclusive em contextos de terapia em grupo”, comenta.

Na modalidade de família, o psicólogo ressalta a importância da pesquisa para ajudar a identificar problemas vividos no cotidiano e desafios enfrentados pela sociedade. Ao refletir coletivamente sobre essas questões, torna-se possível buscar melhorias. De forma paulatina, ele acredita que esse movimento pode transformar a realidade aos poucos e abrir caminho para um futuro mais positivo.


“Seguir pesquisando psicoterapia é um compromisso social. As demandas de saúde mental impactam cada vez mais os serviços de saúde, as escolas e as relações de trabalho. Estudar essa prática é pensar em cuidado e evidenciar seus efeitos na vida das pessoas, rompendo a ideia de que ela serve apenas para quem está doente. Ela é valiosa no âmbito individual e também para construir uma sociedade que cuide mais de si”José Waldo Neto, egresso do curso de Psicologia da Unifor

O egresso avalia que a construção do sistema gerou um impacto muito positivo ao facilitar o monitoramento das pesquisas. “Vejo o Anni como um grande avanço para a pesquisa em psicoterapia, sobretudo por ser uma plataforma pensada e desenvolvida justamente para acompanhar os processos de investigação. Isso teve um efeito importante para mim enquanto pesquisador e também na minha atuação clínica”, afirma.

Para ele, todo esse processo facilitou a sua construção enquanto pesquisador, enquanto clínico, mas sabendo que o Anni é uma plataforma que tem muito a contribuir com a pesquisa em psicoterapia, com a pesquisa em psicologia e em outros campos de pesquisa também.

Resultados e estruturas 

O professor Lucas Bloc conta que a equipe está em um processo de adotar o sistema em nossas pesquisas e torná-lo funcional. Para isso, foram utilizadas algumas turmas-piloto como forma de testagem. A proposta é ampliar o uso e avaliar sua viabilidade e contribuição

“Contamos com o apoio fundamental dos editais de pesquisa da VRP e com a parceria do Vortex. Os editais garantiram recursos financeiros e bolsas, viabilizando o desenvolvimento do estudo. Esse trabalho em conjunto tem sido decisivo para os avanços alcançados”, cita o professor.

O egresso José Waldo, por sua vez, ressalta que a Unifor ofereceu suporte fundamental para a construção do sistema. A partir da parceria entre o Apheto e o Vortex, financiada pelos editais de grupos da Fundação Edson Queiroz, vinculados à VRP, o projeto foi desenvolvido de forma alinhada, com análise das demandas necessárias para o processo.

Ele conta que a universidade também contribuiu ao ceder o espaço do NAMI, especialmente do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA), permitindo testar o sistema em atendimentos reais e validar suas funcionalidades com supervisão docente. Essa experiência prática ajudou a ajustar a plataforma às demandas do cotidiano clínico e a fortalecer a robustez dos dados coletados.

Com os resultados das turmas-piloto, a equipe agora trabalha na ampliação do uso do Anni em novas pesquisas e contextos de atendimento, avaliando indicadores de viabilidade, segurança e impacto formativo. A arquitetura escalável da plataforma também abre caminho para futuras parcerias com outras clínicas-escola e instituições interessadas em modernizar o acompanhamento psicoterapêutico.

Ao integrar tecnologia, prática clínica e produção científica, o Anni reforça o papel da Unifor na inovação em saúde mental e na formação de profissionais capazes de atuar com base em evidências. Mais do que digitalizar rotinas, o sistema cria condições para compreender melhor os processos terapêuticos, melhorar intervenções e gerar conhecimento socialmente relevante.


Esta notícia está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), contribuindo para o alcance dos ODSs 3 – Saúde e Bem-Estar e 4 – Educação de Qualidade.

A Universidade de Fortaleza reforça, assim, seu compromisso com a promoção da saúde e do bem-estar em diferentes contextos (ODS 3), ao mesmo tempo em que fortalece uma educação inclusiva, equitativa e de excelência, ampliando oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos (ODS 4).